Coluna Rookie Text, por Vitor Fazio: Pontos inúteis

Se a tentativa da categoria ao estipular a pontuação dobrada era aumentar o número de candidatos ao título na última corrida, não surtiu resultado algum. Em suma, os postulantes na etapa derradeira serão os mesmos se fossem 25 pontos em jogo

A F1 se encaminha para dias de decisão. A temporada de 2014 tende a ser uma das mais apertadas da história, com um confronto direto entre companheiros de equipe, Hamilton e Rosberg, líder e vice no campeonato de pilotos. Após catorze etapas, três míseros pontos dão a ponta para o bretão.

Ah, os pontos. Foram tema de um dos grandes debates da pré-temporada: a pontuação dobrada para o GP de Abu Dhabi, a última corrida do ano. Os puristas do automobilismo fizeram um coro contra a medida, injusta, desnecessária e que acabaria por privilegiar um dos circuitos mais chatos do calendário. O objetivo era aumentar o número de concorrentes ao título na última etapa. Temia-se que isso traria um estrago sem precedentes para um esporte que, num mundo perfeito, deveria ser repleto de lisura e justiça.

Lewis Hamilton, Nico Rosberg e Daniel Ricciardo (Foto: Getty Images)

Os pontos dobrados, todavia, não farão diferença alguma. Hamilton e Rosberg já tem mais de cinquenta pontos em relação a Ricciardo — o mais próximo de um adversário que existe para as Mercedes em 2014. Seria suficiente para tirar o australiano da disputa em Abu Dhabi. Não vejo como esse cenário possa ser revertido, já que a tendência é a manutenção da superioridade prateada, mesmo que já não tão absoluta, nas últimas corridas. Se a tentativa da categoria era aumentar o número de candidatos ao título na última corrida, não surtiu resultado algum. Em suma, os postulantes na etapa derradeira serão os mesmos se fossem 25 pontos em jogo.

E não deve afetar nem a própria disputa entre Hamilton e Rosberg. Quem chegar à frente será campeão, valha a vitória 25, 50 ou 80 pontos. A diferença de pontos entre a dupla deverá ser baixa demais para ser afetada pelo formato novo.

O único risco que ainda existe é uma discrepância na pontuação final. Hamilton pode chegar aos Emirados com um ponto de vantagem e voltar para casa como um vice, 49 pontos atrás. Quem for olhar os números, crus, vai achar que Rosberg foi soberano ao longo dos meses, sem dar chances ao ex-amigo. E você não precisa ser um aficionado de F1 para saber que isso não é a verdade.

Essas condições são a melhor resposta possível para uma medida esdrúxula da FIA. Dar um peso desproporcional à última etapa beira o irresponsável. Um dia ruim poderia jogar fora o trabalho milionário de uma equipe, construído cuidadosamente ao longo de um ano. Não justifica, eticamente, a vontade de ver muitos postulantes ao título. Se existem poucos (ou só um), deve-se à capacidade do piloto e da escuderia triunfantes. Quer mais concorrentes? Torça pela competência dos adversários. Ou para que a F1 vire uma categoria monomarca.

Felizmente, a pontuação não deve durar muito. Bernie Ecclestone já disse que deve cair no próximo ano, pois se mostrou impopular — algo óbvio. Bem, se nem quem tem as ideias mais absurdas e polêmicas quis defender, é porque os pontos dobrados são simplesmente toscos. A idoneidade do esporte agradece.

Uma salva de palmas para a FIA. E não precisam ser duas.

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