Coluna Parabólica, por Rodrigo Mattar: …E Massa acordou

Uma fonte confiável garante que, além de puxar a sardinha para Bottas, Wolff tem interesse em vê-lo guiando para a Mercedes em 2016, quando vence o contrato dos alemães com Nico Rosberg. E essa mesma fonte confirma o 'racha' de preferências dentro do comando técnico, desportivo e até financeiro da Williams

Eu tinha outro assunto engatilhado para a coluna desta semana, para fazer um “aquecimento” do Europeu e do Mundial de Endurance, que se iniciam ainda em abril. Mas diante do que o mundo inteiro viu no GP da Malásia de F1, não posso passar batido em emitir opinião sobre o que aconteceu com Felipe Massa logo em sua segunda corrida pela Williams.

Em primeiro lugar, vamos combinar que o episódio, mais do que um déjà vu do polêmico GP da Alemanha de 2010, aquele do “Fernando is faster than you”, além de remexer numa ferida que insistem em tentar reabrir, foi infeliz e mancha a reputação de uma escuderia que precisa se recolocar no status quo da categoria máxima do automobilismo após um ano tenebroso de cinco pontos somados no Mundial de Construtores.

Tal atitude da Williams foi condenada por gente de peso feito Niki Lauda e Stirling Moss e também por quase unanimidade, pela imprensa internacional. Corajoso foi o repórter de uma emissora de TV, que encurralou Claire Williams contra a parede, questionando as ordens via rádio em que Felipe Massa fora instruído a dar passagem a Valtteri Bottas, supostamente porque o finlandês era mais veloz que o brasileiro. Contudo, a ultrapassagem não veio e Massa fez o seu papel desta vez – como já deveria ter feito há quatro anos.

Massa acordou. Tarde demais, mas acordou.

Aí os titulares Valtteri Bottas e Felipe Massa – Williams já está dividida, diz Mattar (Foto: Williams)

Afinal de contas, prestes a completar 33 anos e quase 200 GPs no currículo que tem um vice-campeonato em 2008, Felipe ainda é um piloto que pode ser útil. Especialmente na questão da experiência, embora não tenha sido um líder natural na Ferrari – haja visto que conviveu com Schumacher, Räikkönen e Alonso – é um piloto respeitado por sua bagagem dentro da categoria. O perigo, porém, está no que a Williams pode ainda fazer contra o brasileiro no decorrer do campeonato.

Politicamente, a equipe já está dividida. Aliás, isso acontecia desde o ano passado. Um dos motivos pelos quais o venezuelano Pastor Maldonado caiu fora do time de Grove foi porque se sugestionou ao piloto que ele serviria como uma espécie de “tutor” de Valtteri Bottas, para atender os interesses não do finlandês, mas de Toto Wolff.

Não, ninguém leu errado: apesar de ser o diretor esportivo da Mercedes-Benz, Wolff também é empresário de Bottas. E antes de mudar para a marca da estrela de três pontas, trabalhava na Williams. Foi ele que usou de sua influência para pôr seu pupilo no lugar que era de Bruno Senna e é ele quem pressiona os ingleses para dar o posto de primeiro piloto ao finlandês.

Uma fonte confiável garante que, além de puxar a sardinha para Bottas, Wolff tem interesse em vê-lo guiando para a Mercedes em 2016, quando vence o contrato dos alemães com Nico Rosberg. E essa mesma fonte confirma o 'racha' de preferências dentro do comando técnico, desportivo e até financeiro da Williams.

De um lado, estariam Pat Symonds e Louise Evans, diretora financeira do time, apoiando o plano maquiavélico de Toto Wolff para favorecer Bottas. Do outro, Massa conta com a simpatia do CEO Mike O’Driscoll e de Mark Biddle, do conselho geral da Williams. Na opinião destes últimos, Felipe é um piloto subestimado e, se tiver apoio e status de primeiro piloto, pode render o mesmo que rendeu em 2008, quando quase foi campeão do mundo.

Para completar, é claro que as principais figuras da equipe não se manifestam. Claire Williams tenta apaziguar os ânimos e apagar o incêndio já deflagrado pela situação constrangedora da Malásia. Patrick Head e o fundador do time, Frank Williams não participam tão ativamente do dia-a-dia da equipe quanto noutros tempos e também preferem ficar fora dessa questão.

Diga-se de passagem, a história da F1 mostra que por mais de uma vez a equipe mostrou pouco jogo de cintura para administrar seus próprios problemas. A cizânia entre Alan Jones e Carlos Reutemann custou ao argentino o título mundial de 1981. E quem há de esquecer a “Williams I” de Nelson Piquet e a “Williams II” de Nigel Mansell, seis anos depois? Piquet teve que lutar com suas forças, apoiado pelo engenheiro Frank Dernie, contra a corrente britânica liderada por Patrick Head que tentava favorecer o Leão. Com malandragem, argúcia tática e alguma sorte, Piquet conquistou o tricampeonato e, desgostoso com a política rasteira do time, deixou a Williams, levou os motores Honda consigo e foi para a Lotus.

Voltando aos dias atuais, duas coisas ficam claras: Claire terá que ser competente o bastante para administrar as pressões que virão do lado da Mercedes-Benz e também dos que apoiam Massa – não só os homens influentes dos bastidores como os patrocinadores brasileiros. E por seu turno, Felipe terá que mostrar cada vez mais serviço dentro do cockpit de seu carro.

Massa não poderá dar bobeira nenhuma diante do companheiro de equipe, que é reconhecidamente rápido. A partir deste GP do Bahrein, quando Rob Smedley, seu antigo engenheiro na Ferrari, voltar a trabalhar com o acerto do carro na pista com o brasileiro, Felipe terá que guiar com a faca nos dentes. Terá que ser rápido o tempo todo. Errar o mínimo possível. E não se deixar dobrar por ordem de equipe nenhuma.

Bottas está longe de ser um “frangote”. Mas é um perigo a ser evitado. E isso só depende do que o brasileiro pode produzir a partir de agora em diante.

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