Análise: McLaren Honda busca ousadia na retomada da parceria. Falta andar

Com a nova filosofia do carro de F1 ‘size-zero’ e procurando uma forma de alcançar a Mercedes em busca de vitórias, a McLaren optou por arriscar no projeto do MP4-30. Até aqui, vem garantindo que está tudo bem. Mas falta andar pra valer, e é preciso mostrar evolução nos testes em Barcelona

McLaren Honda tem um projeto ousado, mas que até agora não foi muito visto na pista (Foto: McLaren)

Às vezes, para se livrar de uma situação incômoda, é preciso assumir riscos, ousar, inventar. Foi o que a McLaren Honda optou por fazer na retomada de uma das parcerias mais aclamadas da história da F1. Mas, até o momento, houve mais sinais de preocupação do que de otimismo — algo que precisa mudar com o início da segunda bateria de testes da pré-temporada, em Barcelona, nesta quinta-feira (19).

 
Dá para dizer que a situação nos testes em Jerez foi dramática. Mesmo assim, todos no time negaram existir grandes preocupações com relação à performance do MP4-30, cuja criação já contou com a supervisão de Peter Prodromou, e do novo motor V6 turbo da Honda.
 
Tomemos como exemplo o que aconteceu com a Renault nos treinos coletivos em Jerez em 2014. Com três equipes na pista, foram 151 voltas e um melhor tempo de 1min29s915. Na realidade, os problemas não pareceram devidamente resolvidos até o fim dos testes. E não foi que Daniel Ricciardo quase fez a pole-position no GP da Austrália e ainda cruzou a linha de chegada em segundo?
 
Em 2015, a McLaren Honda deu 79 voltas e virou 1min27s660. Olhando para os números brutos, realmente dá para notar que essa é uma condição ligeiramente melhor do que vivia a montadora francesa há 12 meses. Mas não é porque uma conseguiu que a outra também vai.
 
A primeira vez que o motor Honda entrou na pista foi em uma versão híbrida do MP4-29, em novembro, em Abu Dhabi. Em dois dias, foram apenas cinco voltas, tempo necessário para que “dois ou três problemas graves” se manifestassem. Segundo o diretor de engenharia Matt Morris, foram corrigidos até a chegada a Jerez. Na Andaluzia, foram outros fatores — defeitos “pequenos e chatos” que se manifestaram, notadamente de ordem elétrica, mas também na parte operacional da unidade de força — algo que Morris destaca ser normal na transição para o trabalho com uma outra montadora. A associação à Mercedes já vinha desde 1995.
 
Mas, se eram defeitos pequenos, por que tanta demora para consertá-los?
Carro da McLaren tem traseira bastante compacta (Foto: Xavi Bonilla/Grande Prêmio)
Algo que a McLaren vem fazendo questão de ressaltar é a nova filosofia do carro de F1 ‘size-zero’. A traseira do MP4-30 é impressionantemente estreita se comparada a de outros carros. Para que fosse possível adotar tal desenho, foi necessário um trabalho intenso em conjunto com a Honda — um verdadeiro desafio proposto aos japoneses, como definiu Yasuhisa Arai, chefe da operação da Honda na F1.
 
Para se reduzir o tamanho das peças e aproveitar ao máximo o espaço debaixo da carenagem, todas as peças acabaram muito aglutinadas, e isso torna mais difícil executar reparos — ainda mais quando tudo é novo e a própria equipe ainda está se acostumando.
 
“Temos sido bem extremos montando nosso carro e todas as soluções técnicas que trouxemos são coisas que acreditamos que iriam nos ajudar a diminuir a distância para a Mercedes. No entanto, ser ambicioso ou corajoso não significa ser confiável”, disse o diretor de corridas Eric Boullier em Jerez.
 
Outra questão que essa decisão traz à tona diz respeito à refrigeração da unidade de força. Menos espaço, entradas de ar menores, menor a capacidade de manter uma temperatura ‘agradável’ para o propulsor.
 
Mas, segundo Boullier, a McLaren trabalhou junto da Honda e da Mobil para que seu motor pudesse funcionar a temperaturas mais altas. Valores não foram especificados, mas, para efeito de comparação, o motor de 2014 da Ferrari podia chegar a 1000ºC.
 
A palavra do time em Jerez foi que, apesar da pouca quilometragem, pelo menos isso já foi possível conferir e ter a certeza de que está OK. “O principal para se tirar deste teste era saber como a arquitetura do carro e a instalação do motor seriam, e passamos com sucesso por isso”, falou Morris.
A refrigeração adequada para o motor Honda é um desafio para a equipe (Foto: Xavi Bonilla/Grande Prêmio)
E como saber que o frio de Jerez — os termômetros mal passaram dos 10ºC durante a semana — ofereceram condições representativas o bastante? “Não tenho 100% de certeza, mas aqui nós conseguimos simular situações de temperaturas mais altas. Desenhamos os carros para resistirem a essas situações de calor. Conseguimos compensar isso hoje, mas sabemos que podemos cobrir as situações mais quentes também”, afirmou Boullier. O mesmo é dito a respeito dos tempos de volta.
 
A atitude de se assumir riscos em busca do topo é louvável, mas também pode se tornar um tiro que saiu pela culatra. A semana da McLaren em Barcelona, na realidade, começou mais cedo, com a realização de dois dias de filmagens no Circuito da Catalunha na segunda e na terça-feira. A equipe disse que tudo correu bem, mas os relatos a respeito do primeiro dia indicam que poucas voltas foram dadas. No segundo dia, a situação foi melhor.
 
“Se você está atrás em qualquer esporte, precisa acelerar mais do que quem está na frente. Do contrário, não vai alcançá-los”, afirmou Ron Dennis em entrevista à imprensa inglesa em Jerez. “Tomamos alguns riscos técnicos calculados? Sim. Estes estão relacionados a tecnologias que somos os primeiros a usar, e vamos trabalhar duro para tirar vantagens de performance. E provavelmente não vai ser nem na Austrália até que a gente vai saber como está se saindo. Teremos que esperar duas ou três corridas antes de podermos fazer uma leitura exata. E vamos tentar nos dois testes que faltam tirar as consequências deste conceito tão compacto.”
 
É bom, mesmo, que a McLaren Honda realmente comece a reagir enquanto há tempo — se demorar muito, começará a querer dar passos maiores que a perna e aí acabará se complicando. A cobrança sempre é grande em uma equipe dona de 20 títulos na F1.

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