Grandes Entrevistas: Nelsinho Piquet

Nelsinho Piquet sai da temporada da F-E com moral de campeão, não poderia ser diferente. E em entrevista exclusiva ao GRANDE PRÊMIO, o piloto falou sobre o choro quando recebeu a notícia do título, o que espera com as mudanças da categoria para a segunda temporada e outros assuntos. A participação na Indy Lights e o possível futuro na Indy, bem como sobre a F1, onde, segundo ele, ainda teria as portas abertas se quisesse: seria apenas o caso de aparecer com alguns milhões ao portador

Campeão. Foi assim que Nelsinho Piquet, que assinou num último momento com a China Racing para correr a temporada inaugural, terminou o ano da F-E. O primeiro campeão da história da categoria de monopostos elétricos que promete ficar apenas maior no cenário internacional a longo prazo.

Filho de um dos maiores pilotos da história da F1, Nelsinho começou a carreira de forma brilhante no kart e nas categorias-escola. Campeão na F3 Inglesa, vice-campeão para Lewis Hamilton na GP2 após uma briga forte por todo o ano de 2006, Piquet chegou à F1 pelas mãos da Renault. Chegou a ir ao pódio e deu adeus, escolhendo não querer mais participar do que a categoria tinha a oferecer após ser extirpado pela equipe cerca de um ano após descobertos os melancólicos incidentes em 2008.

 
Os anos passaram, Piquet foi para os Estados Unidos, viveu bons momentos na Nascar, foi top-10 na classificação geral por dois anos seguidos na Truck Series, subiu de categoria, venceu corrida e mostrou predicados na Nationwide – hoje Infinity Series. Mas os contratos não vieram, e ele se foi. Chegou ao Ralicross para brigar por título no primeiro ano.
 
Em 2014, após uma série de testes onde as dez equipes participantes mudaram seus pilotos tentando se achar e escolher, tanto times quanto pilotos, para onde iriam, Piquet fechou com a China, que não parecia de cara ser uma concorrente na luta pelo título, para guiar no primeiro ano da F-E. Uma categoria revolucionária pelo próprio DNA verde, amistoso ao meio-ambiente com seu zero de emissão de poluentes. Sem combustível, com dúvidas. Mas a F-E veio com um grid cheio de renome e atenção. E entregou o que prometia.
 
Durante a temporada, Nelsinho cresceu com a equipe. Se tornou candidato ao título pelo meio do campeonato até se colocar com a figura central da disputa, primeiro pela rivalidade com Lucas Di Grassi, depois pela liderança. E foi campeão, enfim.
Nelsinho Piquet celebra seu feito histórico (Foto: F-E)
É campeão

Ao cruzar a linha de chegada em Londres e receber a notícia de que tinha conquistado o título, as imagens da transmissão da TV mostraram um Nelsinho diferente do piloto concentrado que o público se acostumou a ver. Emocionado, aos prantos, Piquet limpava o olho por dentro da viseira. Segundo ele, nada a ver com os campeonatos que escaparam da mão ou os anos difíceis pós-Cingapura.

 
"Foi mais o estresse do final de semana. Começou tão tranquilo, eram 17 pontos de vantagem. E em pouco tempo, depois de uma corrida, eram cinco pontos. Então, no outro dia teve chuva na classificação para piorar. Foi uma coisa piorando atrás da outra. Realmente acabou me estressando muito. Depois de tanto trabalho, não desistir, batalhar domingo o dia todo, conseguimos sair com o título", disse em entrevista exclusiva ao GRANDE PRÊMIO.
 
O título veio por um mísero e precioso ponto. Após largar na 16ª colocação, Piquet escalou com a China até o oitavo lugar. Dois postos à frente, Sébastien Buemi errara na pista e após rodar era o sexto posicionado. À sua frente, Bruno Senna. O ataque de Buemi nas voltas finais foi feroz, mas Senna bravamente o segurou. Por tabela, segurou a conquista do compatriota. Com campo visual para ver o que estava acontecendo, Nelsinho não sabia bem que aquela disputa valia seu título.
 
“Eu estava um pouco surpreso imaginando porque o Buemi estava tão atrás naquele ponto ainda, mas eu não sabia que ele tinha errado, rodado na corrida, perdido posições. Eu não sabia. A equipe não me mandou passar, então eu fiquei na minha, perto deles, esperando falarem alguma coisa para mim. Depois, eles pediram para eu fazer a volta mais rápida. Até passei bem perto de conseguir, mas na hora não deu, porque como eles estavam brigando eu chegava bem perto rápido”, contou.
 
Por garantir o título, Nelsinho já agradeceu. A Senna por segurar Buemi. E a Buemi, por rodar e perder a posição que lhe assegurava a conquista. "Sim, [agradeci ao Bruno] com brincadeira. Agradeci a ele e ao Buemi por ter rodado.”
 
Para a segunda temporada de sua história, que começa no próximo mês de outubro e se estende até meados de 2016, a F-E terá mudanças. As equipes se transformam em construtoras, agora fabricando os próprios trens de força – constituído por motor elétrico, inversor, câmbio e sistema de resfriamento. Serão oito entre os dez times. Uma mudança de forças pode até ser vislumbrada, mas Piquet não acha que as mudanças serão grandes. Ao menos até que as baterias sejam diferentes, o que só irá acontecer a partir da temporada 2016-17.
 
"Acho que não vai mudar muito, não. O grande diferencial é a bateria. Se todo mundo melhorar, vai melhorar muito pouco. No máximo 5% do desempenho, creio que nem isso. Na melhor das melhor das hipóteses, 4, 5%, que é muito pouca coisa. Se você souber lidar com a bateria melhor que todo mundo, como acho que seja nosso caso, por mais que não melhoremos o tanto que outras equipes melhorem, ainda vamos continuar muito competitivos.
Depois de rodar por tantas categorias e tantos tipos de carro, Nelsinho diz que vai ficar na F-E por algum tempo. Não necessariamente, porém, porque ele escolheu a F-E em comparação com a Nascar, por exemplo, mas porque foi pelas mãos da China em parceria com a NextEV e para acelerar os bólidos elétricos que ele recebeu uma longa proposta contratual e estabilidade.
 
"É bem simples, né!? Ganhamos um campeonato, recebemos um contrato longo, recebendo bem… Eu assinaria em qualquer lugar. Na Nascar, também era isso que eu queria. Se eu tivesse recebido o contrato para ficar, teria ficado lá também. Mas é difícil competir com os americanos por patrocínio. No Ralicross, eu tenho a mesma coisa. Só não assinei o contrato longo como segurança caso eu fosse muito bem na F-E, que foi o que aconteceu. Por isso eu perdi a etapa do X-Games, porque estava na disputa no campeonato, e esses contratos são relativamente maiores na F-E", falou.
Nelsinho Piquet se tornou campeão da F-E em Londres (Foto: Reprodução/Twitter)

Relação com a F1

Quase sete anos após aquela fatídica corrida em Cingapura – seis após a descoberta -, uma mancha indelével a uma carreira no geral excepcional, e Nelsinho crê que a imprensa tem um papel muito grande em inflar o tamanho da questão. A vitória da F-E, para ele, não é o que faz do episódio que o expurgou da F1 maior ou menor no panorama de sua carreira.
 
"Eu acho que isso fica mais por conta dos jornalistas, mesmo. De comparar aquilo com minha carreira inteira. É um acontecimento, uma coisa que fui forçado a fazer, e os jornalistas transformaram em algo gigante. Mas não sei o motivo disso estar à frente dos campeonatos que eu já ganhei, as corridas da Nascar, a liderança do Ralicross no meu primeiro ano. Quer dizer que se eu tivesse perdido o campeonato por um ponto, as coisas teriam mudado? Agora eu ganhei, apagou tudo, mandei uma mensagem para todo mundo?”, questionou.
 
“As pessoas com cabeça pequena vão falar disso, óbvio. Eu acho que estou tendo sucesso agora não porque aprendi a andar agora. É porque pela primeira vez estou numa categoria onde todos os carros são iguais, as pistas são novas e estão todos com as mesmas condições", especificou sobre a F-E.
 
“Se me colocar em qualquer situação dessas, vou me dar bem. Não tenho dúvida. Até a GP2, quando as coisas eram iguais para todo mundo, sempre andei em primeiro e segundo, minha carreira inteira. Na F1, obviamente era um pouco diferente porque eu estava do lado do [Fernando] Alonso, que me faltam palavras para descrever como é bom. E eu estava sob pressão forte. Mas depois disso, todas as situações em que eu estive, Nascar, Ralicross, todas eram mais difíceis, com pilotos muito mais experientes, dez anos mais experientes e que sabiam dez vezes mais o que estavam fazendo”, explicou Nelsinho.
 
Falando em F1, Piquet tratou de qual a diferença dele para os outros pivôs do incidente em Cingapura, Flavio Briatore e Pat Symonds. Briatore deixou os paddocks da F1, mas segue influente e tendo uma voz bastante ouvida; Symonds voltou ao jogo e desde o ano passado é tratado como o Messias que retornou dos céus para salvar uma moribunda Williams. Por que, então, Piquet não pôde ficar na F1?
 
"A diferença é que eu não quis ficar lá. A diferença é que logo que eu saí de lá, fui para os Estados Unidos. No ano seguinte, se eu quisesse correr na Toro Rosso, teria corrido, mas preferi não correr”, contou. 
 
Então, caso Nelsinho quisesse um retorno à F1, haveria jogo? De acordo com ele, na F1 dos dias atuais, qualquer um, faça o que tiver feito para bom ou ruim pode entrar na dança caso tenha uma conta bancária pomposa o bastante. “Se eu tivesse um cheque de R$ 5 a 10 milhões no bolso, as portas estariam bem abertas. Aí é fácil de entrar. Hoje em dia não interessa quem é você para entrar na F1, você tem que ter um cheque."
Nelsinho Piquet comemora vitória em Long Beach (Foto: Jae C. Hong/AP)

Dias de Indy

Apenas se reaproximando do mundo das competições europeias com a F-E, Nelsinho ainda tem laços muito mais fortes com os Estados Unidos pela vida recente na América. Por lá, após as classes da Nascar e o Ralicross, ele pôde estrear na Indy este ano. 
 
Na Indy Lights, mais precisamente, numa semana em que sua agenda estava vazia, e o titular da Carlin, Max Chilton, estava em Le Mans. Piquet chegou dominando, fez pole e liderava a primeira prova em Toronto quando foi abalroado e retirado da prova. Na segunda perna da rodada dupla, mais uma vez um exagero de quem vinha atrás custou a participação. “Fugiu ao meu controle”, é como Nelsinho classifica os incidentes.
 
Mas agora que a porta está aberta, Piquet admite que pode aparecer na Indy ainda em 2015. Afinal, seu chefe no Ralicross é James Sullivan, um dos donos da KV, onde já correram Tony Kanaan e Rubens Barrichello, num passado próximo, e que já venceu uma prova na temporada atual pelas mãos de Sébastien Bourdais.
 
"Fiz aquela corrida na Lights para substituir outro piloto. Obviamente, meu chefe do Ralicross quer que eu corra na equipe dele da Indy até o final do ano. Mas eu só vou fazer se for em condições boas. Não vou chegar sem conhecer o carro. Se tiver um dia de treino na pista onde a gente vai correr, eu até faria. Mas não é algo que eu planejo ou sonho fazer”, abriu.
 
Correria em ovais, também, segundo ele. "Se eu tivesse oportunidade de correr, tivesse data, não fosse atrapalhar, não teria porque negar. Não estou indo atrás e procurando, mas se tivesse uma boa oportunidade eu faria uma corrida”, continuou.

Embora a F-E tenha começado sua história de vento em popa, é necessário admitir que uma categoria como a Indy carrega um peso histórico muito maior. Mesmo assim, caso recebesse uma proposta de longo prazo para andar em tempo integral na competição que comporta as 500 Milhas de Indianápolis, Nelsinho ficaria, hoje, com a novata. 
 
Ao menos por enquanto, para o piloto, seria “burrice” deixar uma situação de prestígio onde ganha corridas e disputas título para ir a uma categoria onde vai brigar com pilotos muito mais experientes no conhecimento de carros e pistas. Mas o futuro ao futuro pertence.
 
“Se fosse agora, nesse momento, eu escolheria a F-E. Eu estou bem, ganhando corridas, campeonato, não tem razão para sair, seria uma besteira. Ir para uma categoria que tem pilotos lá há dez anos, muito mais experientes que eu, que conhecem todas as pistas, é meio burrice eu fazer um negócio desses. Agora, uma geração nova de carros, novas pistas, coisas que façam mudar um pouco para todo mundo, aí poderia até ser possível, mas não tem motivo para fazer isso agora. Se a F-E não estiver indo bem no futuro, talvez”, ponderou.
Nelsinho Piquet (Foto: Indy Lights)

E o futuro?
 

O que o futuro reserva? Talvez as 24 Horas de Le Mans, onde Piquet confirma querer voltar. Ele esteve lá em 2006, na classe GT1, ao lado de Antonio García e David Brabham, terminando no quarto lugar. Não conseguiu voltar desde então. “Já fiquei em quarto em Le Mans, mas nas outras vezes que eu poderia correr sempre estive com o calendário ocupado. Só nos últimos duas ou três eu tive oportunidade aberta. Mas eu faria, sim, é uma corrida que tenho vontade de ganhar, com certeza."
 
No momento, porém, o foco é o Ralicross. Pela SH, Piquet foi o quarto colocado no campeonato de 2014, conseguindo ir ao pódio em quatro das dez etapas. Em 2015, após cinco etapas das quais ele disputou quatro, Piquet tem dois pódios e também o quarto lugar geral. Falta uma vitória, e é exatamente o que Nelsinho mais deseja no momento da carreira.
 
"Não tenho nada em mente. Quero ir bem no campeonato do Ralicross, ganhar algumas corridas, que eu não ganhei lá ainda, e se o nosso carro melhorar – no momento não está, na minha opinião, para andar na ponta -, mas se melhorar, disputar o campeonato como fizemos no ano passado.

É definitivamente um bom momento para ser Nelsinho Piquet.

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