Com baterias carregadas, F-E abre temporada inaugural sob grande pressão da impossibilidade de falhar

A F-E começa em Pequim neste sábado ainda como sombra de categorias consolidadas, mas diante dos olhos do mundo do automobilismo e a obrigação de acertar no que alguns consideram o futuro. Movida a bateria, abraçou gente da F1 e da Indy e traz propostas que podem revolucionar. Ou falhar miseravelmente

"Não podemos falhar." Foi essa a frase mais emblemática do homem forte da F-E, Alejandro Agag, ao documentário "Formula E: Baterias Carregadas", produzido pelo NatGeo britânico, que retratou o parto e os primeiros passos da nova categoria.
 
O sentimento de Agag não é estranho. O automobilismo é um esporte atrasado num tempo em que a sustentabilidade ambiental, encontros internacionais para diminuição na liberação de gases nocivos ao meio ambiente e protocolos empurram a sociedade do Século XXI num rumo de conscientização ambiental; o automobilismo, não: este ainda pensa em queima de combustível e em ronco alto, como mostrou a polêmica na F1 quando o som do motor V6 turbo não agradou.
Spotter Guide da F-E, por Pilotoons (Arte: Bruno Mantovani)
   PEDRO HENRIQUE MARUM
Chegou o dia da estreia da F-E. E aí, quem leva primeiro título?
   
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Uma categoria de monopostos elétricos é uma novidade pintada como "o futuro do automobilismo" por uma gama de gente entre especialistas e leigos. Baterias no lugar de motores, troca de carros no meio da prova e toda a esperança de construir o futuro. Expectativas que parecem irreais para uma F-E que ainda não se firmou entre os pilotos de ponta, que dividem seu tempo entre os bólidos elétricos e outras categorias onde são regulares. Quando o conflito de calendário se mostra um problema, o que se pode ver até aqui é que a F-E é quem acaba sendo deixada de lado.

 
E então, fica claro que a F-E pode se ver numa sinuca-de-bico mais cedo do que tarde: precisa se solidificar para que os pilotos a tratem como prioridade. E precisa de pilotos bons e guiando por todo o ano para que seja competitiva ao extremo e atraia mais atenção. Não é só na promessa de sustentabilidade e novidade que a F-E vai se garantir. Primeiro, porque o esporte tem de ser divertido; segundo, porque a novidade passa. Fica claro que a categoria vai precisar encontrar um meio termo que para que cresça, sobreviva e não amaldiçoe a perspectiva dos carros elétricos de competição.
 
"Estamos fazendo algo nas redes sociais que jamais outra competição de automobilismo fez. Queremos fazer da F-E uma fusão de corrida real e videogame. A F-E é direcionada para os fãs mais jovens – a geração do milênio do smartphone", conta o diretor-geral Agag.
 
"A categoria tem um som futurista, que acho divertido. É o som de um motor elétrico. Acredito que é o som do futuro. Também devemos lembrar que apesar de ser uma competição, a F-E é local de testes para novas tecnologias. E isso leva tempo para ser desenvolvido", conta.
 
O tempo que Agag e a F-E têm está à mesa: um quinquênio. Trata-se de um plano de desenvolvimento de cinco temporadas. Jean Todt, presidente da FIA e homem que anunciou a criação da competição, pregou a calma.
 
"A F-E está começando, e é necessário examinar cuidadosamente a primeira temporada para ver o que funciona e o que não funciona. Ganhando popularidade e conforme o calendário cresce, novos times e construtores serão fundamentais", disse.
 
Segundo Agag, a F-E deseja estar na África e Oceania e com pelo menos 16 corridas por temporada. E quer ter outros construtores tomando parte na categoria. "Não necessariamente fazendo todo o carro, mas a bateria, motor elétrico e algumas outras partes", definiu.
 
Mais do que o futuro da categoria, é interessante saber como a F-E vai se comportar nessa primeira temporada. Os Spark-Renault SRT_01E são velozes e atingem cerca de 220 km/h. Não que se esperasse menos de um modelo desenvolvido pelas mãos de Dallara, McLaren, Williams e, claro, Renault.
Olho em Sébastien Buemi, líder dos testes coletivos da F-E em Donington (Foto: F-E)
 
  icon_fotoAs imagens desta sexta-feira da preparação da F-E em Pequim
   

Uma das maiores preocupações na fluência das corridas é quanto à troca de carros. É sabido que os pilotos terão dois carros à disposição e que terão de mudar a máquina durante a corrida. O motivo é a bateria, que ainda não suporta uma prova completa. E se interesse para o futuro é a priori contar com uma bateria durável para toda a corrida, as estratégias possíveis de serem montadas com essa parada obrigatória podem trazer um elemento de interesse a mais ao campeonato.

 
A forma como times e pilotos vão jogar com suas baterias pode ser das coisas mais interessantes das primeiras semanas, exatamente pelo fato de ser surpresa para absolutamente todo mundo. As diferenças de potência são grandes quando bem carregadas e quando já precisam voltar para a tomada? Não se sabe.
 
Outra incógnita é o fim de semana de um dia. A intenção é simples de entender: não competir com categorias já consolidadas. Num espaço de oito horas, os pilotos guiarão em dois treinos livres, de 30 e 45 minutos, uma classificação dividida em quatro partes de dez minutos cada e uma corrida de 45 minutos e uma volta. Uma escapada em um dos circuitos de rua ainda durante o TL1 e o fim de semana pode ir pelo ralo.

A interação com as redes sociais é um dos pontos que mais têm suscitado interesse — logo elas, largadas às moscas pela F1. Pela primeira vez, a participação popular via Twitter pode ter efeito real dentro de uma corrida. Os carros serão equipados com um sistema de push-to-pass no formato da Indy. No entanto, o dispositivo de aumento de velocidade só poderá ser utilizado pelo piloto que receber mais menções de fãs em sua conta no Twitter durante a volta anterior. O ganho de 50bhp por 10s que os fãs irão prover podem ser fundamentais no destino de uma corrida.

Se isso vai dar certo, os reality shows e premiações de música e cinema que funcionam por voto popular tendem a indicar que não. O motivo é que, se algum dos pilotos tiver uma base de fãs mais histérica, pode começar a levar enorme vantagem durante as provas no curso da temporada.

Jarno Trulli volta à ativa como piloto e chefe de equipe (Foto: F-E)
As dez equipes vêm de nove países diferentes. Uma delas, a China, tem a chance de correr em casa o primeiro dos eP (de e-Prêmios) da história. Ho-Pin Tung é o piloto da casa, que deve fazer o público presente no também desconhecido circuito de Pequim delirar. Tung e a China já se encontraram antes, na A1GP durante as temporadas 2006-07 e 2008-09 e na Superliga no ano de 2011.
 
"A China é um daqueles países onde o automobilismo tem se desenvolvido. Essa cultura dos carros rápidos já existe nas grandes cidades e agora está se espalhando para os municípios menores. Acho que uma prova da F-E ao redor do Ninho do Pássaro, um dos lugares mais icônicos do país, vai ajudar a divulgação na China", disse.
 
E ao seu lado no cockpit da equipe chefiada por Steven Lu e Yu Lu, Nelsinho Piquet, que não era regular numa categoria de monopostos desde que deixou a Renault e a F1 em 2009. Depois de três temporadas na Nascar, Piquet volta às fórmulas com algo a provar, após sua maior lembrança da F1 ser o escândalo do GP de Cingapura em 2008.
 
"Quero mostrar que posso guiar tudo. Eu amo guiar. Para mim, é mais uma categoria, mais uma coisa diferente para provar aos meus fãs e pessoas que se ofenderam com o que aconteceu há alguns anos", falou.
 
Nelsinho tem a companhia de dois outros brasileiros, quase contemporâneos dos tempos de F1. Depois de andar no mundo do endurance e sondar a Stock Car, Bruno Senna volta aos monopostos e chega à categoria pelas mãos da Mahindra, nome famoso por sua atuação no mundo das motos e que dá seus primeiros passos firmes nas quatro rodas. Lucas Di Grassi é piloto da Audi, a montadora que abraçou no WEC e que também lhe promove a chance de retornar a um cockpit de um fórmula.
Lucas Di Grassi vem com pinta de favorito ao título na F-E (Foto: Malcolm Griffiths)
Piquet e Senna são acompanhados de outro sobrenome famoso: Prost, de Nicolas, o filho do tetracampeão, pela e.dams – é, com nome em minúscula; é esse mundo moderno que parece adaptado à internet. Voltando ao trio: duas décadas depois, eles voltam a estampar as manchetes. É talvez o chamariz para os saudosistas, ainda que não tenham na bagagem as qualidades e as glórias de suas famílias.

O campeonato se esforça no ar progressista não apenas na tecnologia. Já na primeira prova, duas mulheres estão nos volantes. A veterana Katherine Legge, aos 34 anos, leva para a F-E a experiência de quem já testou pela Minardi na F1 e andou de Indy e DTM Ela vai aparecer no cockpit da Aguri, que assim como a pilota, teve um breve momento na principal categoria de monopostos do mundo. Já Michela Cerruti, atualmente na AutoGP World Series, foi convidada por Jarno Trulli para mostrar seu talento na equipe do ex-piloto da F1.

 
E da F1 vieram outros nomes conhecidos, dentre os quais importantes como Sébastien Buemi, Jarno Trulli e Nick Heidfeld ou que tiveram curta passagem, como Charles Pic e Jérôme D’Ambrosio.
Como o quartel general adotado pela categoria foi Donington Park, é difícil ter uma percepção de quem se saiu melhor dos testes de pré-temporada: as corridas vão acontecer em pistas de rua, muito mais travados que o traçado inglês. Mas é difícil não ressaltar Buemi como um dos favoritos. O suíço liderou quatro dos cinco testes, com Di Grassi ponteando um dos dias. D'Ambrosio também circundou as três primeiras posições em dois testes, mas ambos enquanto ainda acelerava pelo time China. O belga acabou fechando com a Dragon.
 
Olhando os resultados das equipes, tendo como base o teste mais recente, a e.dams talvez se coloque à frente. Buemi e Prost fizeram a dobradinha que deixou a equipe que conta com o mecenato da Renault, num pé de ligeiro favoritismo.

O grupo de 20 pilotos embarca numa jornada que pode mudar o futuro do automobilismo a partir desta sexta (13). Mas que precisa sobreviver no presente para seguir seu viés revolucionário.

 Qual sua expectativa para o campeonato da F-E e quem é o favorito ao título?

As imagens dos testes coletivos da F-E em Donington Park
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Confira a lista provisória de inscritos e a numeração:

2 SAM BIRD ING VIRGIN
3 JAIME ALGUERSUARI ESP VIRGIN
5 KARUN CHANDHOK IND MAHINDRA
6 ORIOL SERVIÀ ESP DRAGON
7 JÉRÔME D´AMBROSIO BEL DRAGON
8 NICOLAS PROST FRA E.DAMS
9 SÉBASTIEN BUEMI SUI E.DAMS
10 JARNO TRULLI ITA TRULLI
11 LUCAS DI GRASSI BRA AUDI
18 MICHELA CERRUTI ITA TRULLI
21 BRUNO SENNA BRA MAHINDRA
23 NICK HEIDFELD ALE VENTURI
27 FRANCK MONTAGNY FRA ANDRETTI
28 CHARLES PIC FRA ANDRETTI
30 STÉPHANE SARRAZIN FRA VENTURI
55 TAKUMA SATO JAP AMLIN
66 DANIEL ABT ALE AUDI
77 KATHERINE LEGGE ING AMLIN
88 HO-PIN TUNG CHN CHINA
99 NELSINHO PIQUET BRA CHINA

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