Análise: a F-E já é muito mais legal e empolgante que a F1?

Em sete meses de funcionamento, a F-E rendeu praticamente apenas elogios. A organização cresce, os pilotos são de alto nível e as corridas são empolgantes. Em 2015, as corridas da categoria novata a fizeram mais emocionante que a F1?

VIU ESSA? CASTRONEVES DECOLA EM ACIDENTE EM INDIANÁPOLIS

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A pergunta tem sido recorrente e surge quando acontecem corridas da F1 como a da Espanha no último domingo. Muitos já têm a resposta e veem a F-E como a menina dos olhos do automobilismo, apesar de suas pecularidades — a ausência do barulho característico do motor, as baixas velocidades e a fragilidade dos carros. Mas a estreante categoria tem corridas e pilotos de ótimo nível e apresentam disputas. 

Por outro lado, tem quem nunca vá deixar de ver a F1 como o topo do esporte a motor, pelo passado de glórias, pelo dinheiro que movimenta e pela tecnologia que, mal ou bem, aplica. O GRANDE PRÊMIO traz duas defesas feitas pelos setoristas das categorias para que se ajude na análise deste tema. Na ordem, Pedro Henrique Marum e Renan do Couto apontam seus motivos para apoiar F-E e F1.


O que faz da F-E a melhor novidade do esporte a motor em anos?

Essa pergunta poderia facilmente ser feita – e está sendo – em qualquer lugar onde o automobilismo seja o tópico de debate. Apenas sete meses após a primeira corrida, é impressionante que não se discuta mais se a F-E é a melhor coisa nova em anos, mas apenas o motivo de ser. Que tem sido fantástica e quebrado as barreiras da desconfiança corrida após corrida, isso não há mais a menor dúvida.
 
Olhemos para a F1 em paralelo. Por motivos óbvios. A categoria bem mais sucedida do automobilismo mundial, a rainha dos monopostos, evidentemente a F1 é o norte para a F-E e para qualquer outra categoria que aparecer. E durante muito tempo, as outras categorias de monopostos com a chancela ou o apoio da FIA foram se tornando quase golpes publicitários falhados. E após uma sequência de erros, A1 GP, Grand Prix Masters e cia. foram esvaziando e fracassando até o fim total ou a uma vida praticamente de um zumbi de 'The Walking Dead'.
 
Mas agora é diferente. A F-E chegou com o rótulo de futuro do automobilismo e coisa assim, mas com muita desconfiança. Não tinha cheiro de combustível, o motor não fazia barulho. Não podia ser automobilismo de verdade.
 
A não ser pelo fato de que a temporada começou e adivinhe? É automobilismo de verdade, de raiz.
 
São apenas sete meses e sete corridas, é verdade. Mas nesse período a F-E apenas cresceu em público com 'sold outs' desde a terceira corrida, em Punta del Este. E com os ingressos para as etapas europeias sumindo em questão de horas, não parece que vão aparecer clarões nas arquibancadas nos próximos tempos. Os pilotos, também, começam a optar pela F-E, hoje com um grid quase completamente formado por ex-F1 e sólido. Os carros são parecidos e permitem o produto final que todos querem ver: disputas roda a roda, ultrapassagens e emoção. Nestes quesitos a F-E se destaca.
 
Voltemos à comparação com a F1. Na Alemanha, por exemplo. Há anos a F1 tem tido dificuldade com a venda de ingressos tanto em Hockenheim quanto em Nürburgring, culminando com o corte do país no calendário da categoria em 2015. Nürburgring vive um drama financeiro, e Hockenheim não pode assumir o prejuízo da F1 por dois anos consecutivos. E mesmo com Mercedes campeã, Sebastian Vettel tetracampeão e Nico Rosberg na luta pelo título, a Alemanha e a F1 vem protagonizando um caso crônico de prejuízo inapelável.
Carros enfileirados antes de irem à pista (Foto: Getty Images)

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Claro que as arquibancadas do aeroporto desativado em Berlim onde a F-E vai correr na Alemanha não se comparam em números gerais de público de um circuito grande, mas chama a atenção que a categoria dos carros sem som e sem cheiro de combustível consiga vender ingressos rapidamente enquanto a F1 simplesmente não é capaz.

 
E embora o problema da F1 em vender ingressos seja maior que o que acontece na pista, o crescimento da F-E tem estritamente a ver com o que acontece com os motores elétricos ligados em corridas tão movimentadas que é praticamente impossível acompanhar todas as trocas de posições. Às vezes até as da frente, como na Argentina, quando a liderança foi caindo de Sébastien Buemi para Lucas Di Grassi, Jean-Éric Vergne e chegou no azarão António Félix da Costa. São seis vencedores em sete corridas, e quem ganhou duas vezes, Buemi, não é quem comanda o campeonato.
 
Enquanto a F1 se vê talvez na pior crise de sua história, envoltas em problemas internos de democracia e distribuição de renda, um redemoinho político, e com uma equipe andando sozinha na pista com dois pilotos de talentos bastante diferentes, a F-E anima e eletriza.
 
Não é que a F1 deixou – ou irá deixar – de ser o pináculo ou a principal categoria do automobilismo mundial. Toda história e o jogo dos tronos políticos dos bastidores são incomparáveis e formam uma aura. A F1 continua sendo a F1. Trata-se de uma questão quase filosófica. Quando o público acorda no fim de semana para ver a F1, está atrás da tradição e do peso e dos nomes. Atrás da etiqueta F1, pois. Quando acorda para ver a F-E, está acordando para ver ultrapassagens, disputas francas e emoções até o final. Uma diferença clara de porquê a F-E tem, hoje, corridas mais vivas, mais animadas e mais legais de serem assistidas.

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A F1 ainda é uma Copa do Mundo do automobilismo a cada 15 dias

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As corridas da F-E são divertidas? São. Mesmo em circuitos de rua, as provas têm sido movimentadas, com ultrapassagens, disputas roda a roda, equilíbrio entre pilotos e equipes. Coisas que diversas vezes faltam na F1. É um excelente passatempo. Mas não é isso que vai tornar o campeonato o meu preferido. Para mim, uma corrida meia-boca de F1 ainda será melhor.

A F1 continua sendo o único campeonato do mundo em que cada aspecto do que acontece além da competição na pista conta para boa parte do público. As rixas entre pilotos, as batalhas entre os engenheiros, as discussões entre os chefes de equipe, as polêmicas entre dirigentes, a politicagem, a idolatria dos torcedores, a tensão e tudo o mais o que oferece.
 
Brigas entre carros diferentes, construídos em fábricas diferentes por times de engenheiros diferentes em países distintos. E que mesmo assim, salvo algumas temporadas que fogem disso, brigam com relativo equilíbrio na pista.
 
Quando o grid se forma após a volta de apresentação para uma largada na F1, para qualquer que seja a corrida, bate uma tensão. Quem vai largar bem? Quem vai largar mal? Vão bater na primeira curva? Tensão assim em uma largada, só vendo as 500 Milhas de Indianápolis — e olha lá.
 
Começada a corrida, ela pode se desenrolar de três formas. Ser daquelas de tirar você da cadeira, com ultrapassagens a todo instante, pilotos andando no limite em busca da vitória, do pódio, dos pontos — seja lá qual for seu objetivo —, ou então com resultados inesperados, como a vitória de Sebastian Vettel na Malásia ou a de Daniel Ricciardo na Bélgica, para pegar exemplos recentes. Pode ser uma prova tática, como, por exemplo, o GP da Espanha do último fim de semana, ou o GP da Austrália: não foram exatamente GPs empolgantes, mas houve batalhas bem táticas. No caso de Barcelona, a briga entre Sebastian Vettel e Lewis Hamilton, envolvendo as estratégias, a necessidade de encontrar tempo em condições teoricamente adversas. Gosto de prestar atenção neste tipo de detalhe. Pegar o computador, analisar os tempos, fazer contas, perceber qual estratégia está sendo mais efetiva. Ou pode ser uma corrida chata e insuportável como foi o GP da China, que eu realmente não aguentava mais ver, mas não se pode ter tudo nesta nossa vida.

A F1 na Espanha (Foto: AP)

E se é para falar de corridas chatas, a F-E teve uma prova insuportável na China na primeira etapa, salva só por um acidente espetacular na última curva.
 
Na F1, por mais que todos saibam que muitos pilotos de alto nível ficam fora por questões alheias à performance, seja o dinheiro, seja a política, estão os melhores. Os melhores pilotos: Sebastian Vettel, Fernando Alonso, Lewis Hamilton, Kimi Räikkönen, Jenson Button, Valtteri Bottas, Daniel Ricciardo, Felipe Massa, Romain Grosjean, Nico Hülkenberg. As melhores equipes. Os melhores engenheiros. É o objetivo que talvez não mais 99% dos garotos têm quando começam no kart, mas 90% querem chegar lá.
 
Acima de tudo, a F1 tem a história. 65 anos de histórias para serem contadas, mais as páginas que estão sendo escritas. Quero ver como estes pilotos de hoje vão se comparar aos grandes de outros tempos, aqueles que só ouvimos falar pelo o que é relatado pelos mais velhos e pelo o que vimos de outras gerações.
 
A F-E pode um dia ocupar o lugar que hoje é da F1? Pode, é claro que pode. Mas isso vai demorar. Por pior que a F1 esteja e mesmo com a audiência em declínio, muita gente ainda assiste nem que seja para criticar e reclamar que está ruim. Se daqui um ou dois anos a F-E tiver um campeonato desequilibrado, é duro dizer, pois realmente estou gostando de assisti-la, ninguém deixará de fazer outra coisa para ver as corridas.
 
Pegando como exemplo a Copa do Mundo de futebol: a de 2010, na África do Sul, teve um nível técnico ruim. Certamente não foi o melhor campeonato já jogado. Mas não por isso deixou de ser o principal torneio do planeta. E a F1 continua sendo uma Copa do Mundo que acontece a cada 15 dias.

SEM NOVIDADES

Cinco corridas se passaram no Mundial de F1 de 2015, e a McLaren Honda dos campeões Jenson Button e Fernando Alonso ainda nem chegou perto de pontuar na temporada. Para a Honda, passar várias provas longe da zona de pontuação — ou andando nas últimas posições do grid da categoria — não chega a ser uma novidade. A montadora japonesa já enfrentou fases tão ruins quanto no passado, e não é nem preciso voltar muito no tempo

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