Domingo especial com GP de Mônaco e Indy 500 também marca 90º aniversário das 24h de Le Mans

Criada para estimular o desenvolvimento de carros não apenas rápidos, mas também confiáveis e resistentes, as 24 Horas de Le Mans superaram crises e comemoram, neste domingo, seu 90ª aniversário

A Tríplice Coroa das corridas de automobilismo é composta por três eventos tradicionalíssimos: o GP de Mônaco, as 500 Milhas de Indianápolis e as 24 Horas de Le Mans. Os dois primeiros escrevem, neste domingo (26), mais um capítulo de suas histórias dentro da pista, em provas válidas pelo Mundial de F1 e pela Indy. O último deles vai ter carros na pista só daqui a três semanas, nos dias 22 e 23 de junho, mas também vive um domingo especial: há exatos 90 anos, a primeira ediçao da mais importante e mais famosa corrida de endurance do planeta era disputada pela primeira vez.

Primeiro cartaz de Le Mans (Foto: Wikipédia)

33 carros, cada um deles com dois pilotos, largaram, às 16h, para o Grand Prix de Endurance de 24 Horas. Uma chuva forte caía sobre a região de Sarthe naquela tarde, complicando a vida de todos. Depois de um dia e 2.209,536 km, os franceses André Lagache e René Leonard, com um Chenard & Walker, venceram.

Iniciativa do Automóvel Clube do Oeste, a corrida tinha como objetivo estimular as montadoras da época a construírem carros mais confiáveis e resistentes, não necessariamente os mais rápidos. Deu certo. Ano após ano, a tradição foi crescendo, e Le Mans se tornou um pólo do esporte a motor e a terceira cidade mais conhecida da França, atrás de Paris e Bourdeaux.

Pouco a pouco, a tradição foi superando guerras e crises e, nessas nove décadas, deixou de ser disputada apenas nove vezes: em 1936, devido a uma greve geral motivada pela Grande Depressão, e de 1940 a 1948, durante a Segunda Guerra Mundial e seus desdobramentos. Além disso, as 24 Horas também sobreviveram às crises do petróleo e, especialmente, à tragédia de 1955.

Chamado repentinamente para os boxes para reabastecer, o líder Mike Hawthorn desacelerou de maneira acentuada para tentar entrar nos boxes naquele instante, em vez de dar uma volta a mais e correr o risco de ficar sem combustível. Atrás do Jaguar do inglês, que usava freios a disco, Pierre Levegh, com uma Mercedes ainda equipada com freio a tambor, não conseguiu diminuir suficientemente a velocidade, acertou o carro do adversário e levantou voo em direção ao público. Levegh e 83 espectadores morreram.

A prova não foi interrompida, mas oito horas depois do acidente, a Mercedes ordenou Juan Manuel Fangio e Stirling Moss a se retirarem da disputa enquanto lideravam, assim como Karl Kling e André Simon. No fim do ano, as Flechas Prateadas encerraram seu envolvimento com o automobilismo, voltando a atuar nas corridas apenas no fim da década de 1980. Um fator que foi bastante comentado e corroborou para a decisão da marca foi a memória da Grande Guerra que havia se encerrado dez anos antes: o acidente envolveu um carro alemão em uma corrida francesa. Hawthorn venceu.

A primeira corrida das 24 Horas de Le Mans aconteceu nos dias 26 e 27 de maio de 1923 (Foto: Getty Images)

No ano seguinte, a história continuou. E hoje, pode-se dizer que o objetivo dos fundadores, de ver carros mais resistentes e novas tecnologias desenvolvidas em Le Mans, foi cumprido. Os já mencionados freios a disco, pneus radiais, faróis, pára-brisas, hoje itens básicos nos carros de rua, surgiram lá. Mais recentemente, tecnologias mais avançadas como os motores turbo movidos à diesel da Audi também servem de exemplo, bem como os motores híbridos que estão sendo desenvolvidos no endurance e, certamente, estarão no mercado daqui a alguns anos.

No âmbito desportivo, a marca que mais se destacou nas 81 corridas já disputadas em Sarthe foi a Porsche, com 16 triunfos. A equipe com mais vitórias é a Joest, que ganhou nove vezes representando duas marcas diferentes: a Porsche e, desde 1999, a Audi. Desde este ano, o domínio tem sido da montadora das quatro argolas, derrotada apenas três vezes.

Lenda viva do endurance, o dinamarquês Tom Kristensen é o maior vencedor. Ele venceu correndo pela Porsche em 1997 e outras sete vezes com a Audi, de 2000 a 2005 e em 2008. Neste ano, ele terá a chance de vencer pela nona vez, dividindo um protótipo e-tron quattro da montadora alemã com Allan McNish e Loïc Duval. A Porsche retornará à categoria LMP1 e a disputa por vitórias em Le Mans em 2014.

Tom Kristensen, um dos grandes em Le Mans (Foto: Getty Images)

Nunca um piloto brasileiro venceu nas 24 Horas, na classificação geral. Quem mais se aproximou foi Raul Boesel, que venceu o antigo Mundial de Marcas em 1986, contudo, jamais triunfou em Le Mans. Neste ano, o Brasil volta a ter boas chances de ver um piloto daqui no alto do pódio com a estreia de Lucas Di Grassi em um dos protótipos da Audi. Na classe GTE Pro, Bruno Senna, de Aston Martin, é um dos favoritos. Foi com carros de gran-turismo que Jaime Melo Jr. ganhou duas vezes na década de 2000.

Dentre as comemorações deste 90º aniversário estão previstas cerimônias de gala, um festival a céu aberto com filmes sobre a prova e apresentações remetendo à longa história de Le Mans. Por último, e mais interessante, o hairpin Pontlieue, localizado no centro da cidade francesa, parte do traçado da corrida por cinco anos, será recriado exatamente como era em 1923, incluindo um café que funciona até os dias de hoje.

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